Seja bem-vindo. Hoje é

terça-feira, 12 de abril de 2011

À boca da noite


Não olhes: é a noite
completa que tomba.

Não olhes: é a estrada
que, súbito, acaba.

Não olhes: é o anjo,
teu anjo que chora.

Não olhes.


Emílio Moura

Canção


Não quero ver esta rosa,
nem saber por que floriu.
A cor mais bela do Arco-Íris
foi a cor que ninguém viu.

Não quero ouvir este canto,
nem saber de seu sentido.
Quem é que me conta
o que foi perdido?


Emílio Moura

Aqui termina o caminho


Os sinos cantando, as sombras todas se diluindo
dentro da tarde. Dentro da tarde, o teu grave

pensamento de exílio.

Por que ainda esperas? Aqui termina o caminho,
aqui morre a voz, e não há mais eco nem nada.

Por que não esquecer, agora, as imagens que

tanto nos perturbaram
e que inutilmente nos conduziram
para nos deixar, de súbito, na primeira

esquina?
Essa voz que vem, não sei de onde,
esses olhos que olham, não sei o quê,
esses braços que se estendem, não sei para

onde...

Debalde esperarás que o oco de teus passos

acorde os espaços que já não têm voz.
As almas já desertaram daqui.
E nenhum milagre te espera,
nenhum.

Emílio Moura

Os que se foram


Pouco a pouco vou compreendendo esta verdade

tão
simples:
Agora é que realmente existem
os que se foram.
Só agora é que todos eles se movimentam
livres, imensamente livres.
Só agora é que falam
o que sempre calaram e era precisamente o que

me
levaria
à única verdade que traziam.
Saem de velhos retratos, ou de ressuscitadas

palavras
soltas,
e caminham comigo que os não sabia tão

transparentes
e comunicativos
tão lógicos,
tão completos.
Completos e definitivos.

Emílio Moura

Mar alto


Que hei de fazer, se não me encontro,
se há tanto tempo estou perdido?
É o mar, meu pai: é o mar! E o mar está

crescendo.
O mar é fundo, o mar é frio.

Meu pai, que silêncio,
que grave silêncio!
Por que não sorris?

Meu pai, estou perdido:
há tantos caminhos
no fundo do mar.
Como hei de votar?


Emílio Moura

Mundo imaginário


Sob o olhar desta tarde,
quantas horas revivem
e morrem
de uma nova agonia? Velhas feridas se abrem,
de novo somos julgados, o que era tudo some-se
e num mundo fechado outras vigílias doem.


A noite se organiza e, no entanto, ainda restam
certas luzes ao longe. Ah, como encher com elas
este ser já não-ser que se dissolve e deixa
vagos traços na tarde?


Emílio Moura

Exílio


Já nada vejo nessa bruma
que ora te esconde.
Quero encontrar-te, mas à noite
não me traz nenhuma
esperança de onde nem quando.

Amor, ah, quanto me deves!
Que é dos pés que, leves, leves,
roçaram por este chão?

Alma, és só tempo e solidão.


Emílio Moura

Marinha


Grito teu nome aos ventos.
Olha: há uma revoada marítima.
O horizonte se afasta, há um ritmo largo
de ondas que se espreguiçam.

Velas esguias,
para onde voam?

Sulcos de prata,
para onde levam?
Amiga, amiga! Ah, dize-me depressa:
Quem grita aos ventos o teu nome?
O mar, ou eu,
o grande mar que o está cantando?


Emílio Moura

Calmaria


Água estagnada
nuvem parada,
folha perdida,
pássaro de asa
partida.


Ó vento que morreis,
de leve, de leve,
despertai!


Luz que se apaga,
sombra diluída,
névoa que vaga,
voz que se cala,
ferida.


Ó voz que adormeceis
de manso, de manso,
gritai, gritai!


Tímida esperança,
pálido desejo:
a tarde tão mansa,
tão lânguida a noite
que vem.


Ó alma náufraga,
como tudo o mais:
desesperai!

Emílio Moura

Interrogação


Sozinho, sozinho, perdido na bruma.
Há vozes aflitas que sobem, que sobem.
Mas, sob a rajada ainda há barcos com velas
e há faróis que ninguém sabe de que terras são.

- Senhor, são os remos ou são as ondas o que

dirige o meu barco?
Eu tenho as mãos cansadas
e o barco voa dentro da noite.


Emílio Moura

SÍNTESE


Que importa à natureza o velho tema,
do ser e do não ser – o berço e a tumba?
Se alguém folgue ao prazer, se à dor sucumba,
se ria ou chore, se suspire ou gema?

Seio de mãe e estranhas de Saturno,
ela alimenta com intenso afeto,
tudo que produziu, e por seu turno,
devora avidamente o próprio feto.

O trágico problema em vão se agita
à velha geração sucede a nova,
e a cada novo ser que à luz palpita
tece-se um berço, rasga-se uma cova.

E o homem de um só dia peregrino,
de manhã, deixa o berço mal desperta;
e ao voltar pela noite, - atroz destino!
Acha o berço ocupado e a cova aberta.


Augusto de Lima
in Coletânea de Poesias

A NUVEM


Nuvem errante, peregrino vaso
que flutuas no espaço eternamente,
ora dourado pelo sol no ocaso,
ora fendido pelo sol nascente.

Essas formas fantásticas que assumes,
batida pela luz e pelos ventos,
nuvem feita de orvalho e de perfumes,
são imagem dos nossos pensamentos.

Amor ou ilusão que vais levando,
no seio onde germinam primaveras,
detém-te nuvem, deixa-me, sonhando,
nutrir-me na visão destas quimeras.


Augusto de Lima
in Coletânea de Poesias

DE TARDE


Eu vi voando caminho do Ocidente,
o bando ideal de minhas ilusões;
Do sol, um raio trêmulo, dormente,
dourava-as com seus últimos clarões.

Para longe corriam doidamente
a crença, o amor, meigas aspirações ...
Creio até, que entre as aves, tristemente,
iam partindo os nossos corações.

Além, além ... e os pássaros risonhos,
foram-se todos. Vênus lacrimosa
brilhou. No mais, deserta a imensidade.

Não! No ocaso do sol e de meus sonhos,
ficou, ainda a pairar triste e formosa,
a ave formosa e triste da saudade.


Augusto de Lima
in Coletânea de Poesias

VERTIGEM DA ARTE


No frontispício de uma antiga igreja,
talhado em duro mármore polido,
abre as asas um anjo que branqueja
entre as flores de pedra adormecido.

O olhar num sonho místico abismado,
imóvel fita a altura friamente:
- gênio estranho, que aos céus arrebatado
em pedra se tornasse de repente.

Era manhã. No rosto alvo e divino,
que no pó do tempo envolve em seu manto,
vi cintilar no orvalho matutino,
deslizando na pedra como um pranto ...

E julguei um instante, que chorasse
aquele ente sem vida, à luz da aurora,
Que se contraísse aquela face,
sem me lembrar que o mármore não chora!

Extático entre os góticos primores,
que um talento infeliz, gênio sem palma,
cinzelasse, talvez, sonhando amores,
e escondendo na pedra o sangue da alma,

tive a vertigem, (louco desvario)
de perder-me no espaço indefinido,
só para ver, de lá, o olhar sombrio
desse anjo de pedra adormecido.


Augusto de Lima
in Coletânea de Poesias

OS FERREIROS


Ó vultos varonis, resplandecentes,
ao rutilar fecundo do trabalho,
que à pobreza buscastes agasalho,
nas forjas inflamadas e candentes:

Sois o Messias que ensinais às gentes
a despir do passado o vil frangalho;
rompe um sol cada vez que tomba o malho,
porque sois outros tantos orientes.

Fazei rolar a esplêndida cascata
do trabalho incessante, pelas vasa
das rochas da matéria a progredir...

Que essas chispas ardentes que desata
vossa bigorna, orvalho são de brasas
para a flor luminosa do porvir.


Augusto de Lima
in Coletânea de Poesias

CÓLERA DO MAR


Disse o rochedo ao mar, que plácido dormia:
“ – Quantos milênios há que tu, negro elefante,
tragas covardemente, esses cuja ousadia
se arriscou em teu dorso enorme e flutuante?”
O mar não respondeu, mas um tufão horrendo,
cavou-lhe a entranha e fez estremecer de medo
o coração do abismo. Então, o mar se erguendo,
atirou um navio aos dentes do rochedo.


Augusto Lima
in Coletânea de Poesias

PAISAGEM NOSTÁLGICA


Deixei meu berço por destino incerto,
Mas a paisagem, guardo-a na pupila.
Guardo-a no coração, donde se estila
Toda a essência das lágrimas que verto.

Sons de sino perdidos no deserto...
Campanários da quase oculta Vila...
Serros magoados que a distância anila,
Mais formosos de longe que de perto.

Não vos esquecerei, por me lembrardes,
Enquanto prantear do alto das tardes,
A estrela Vésper que me viu partir.

Do astro do sonho onde minha alma adeja,
Quando colher as asas, só deseja,
No vosso seio maternal dormir.

Augusto de Lima

FLOR MARINHA


Há nos seus ademanes curvilíneos,
A doce languidez da vaga esquiva.
Seus olhos são dois fúlgidos escrínios
De gemas com que o afeto nos cativa.

Flor das espumas, dos corais sanguíneos,
Nenhum tem de seus lábios a cor viva.
Quanto aos cabelos, meu amor define-os:
"Fios de ébano em onda fugitiva".

Não sou homem do mar, contudo afago
Na alma um doido capricho, um sonho vago,
Um vago sonho singular talvez:

É de um dia, na praia, surpreendê-la,
E unir minha sorte à sorte dela,
Sobre o dorso espumante das marés.


Augusto de Lima

ESPERANÇA E SAUDADE


Sorte falaz a que nos guia a vida!
Por que há de ser tão rápida a ventura,
Que só a amamos quando é já perdida
Ou depende de uma época futura?

O que ao presente, mal nos afigura,
Era esperança, há pouco apetecida,
E uma vez no passado, eis que perdura
Como saudade que não mais se olvida.

Há sempre queixas do atual momento,
E entre as datas se eleva o pensamento,
Como uma ponte de sombrio aspeto.

Em busca da ventura que ignoramos,
Temos saudade ao bem que não gozamos,
Ilusão de ilusões, sonho completo.


Augusto de Lima

VOLTA AO PASSADO


Quis rever em memória o santo abrigo
Onde deixei as ilusões dormindo.
"Vou despertá-las", murmurei, partindo,
"E hei de trazê-las outra vez comigo".

Nova e última ilusão. No sítio antigo,
Jardim outrora florescente e lindo,
Já ninguém dorme. Tudo é morto e findo.
Só de cada ilusão resta um jazigo:

Campas sem epitáfio... Agora é tudo
Um cemitério pavoroso e mudo,
Bem que inda de flores se alcatife.

E dos ciprestes na última avenida,
Vejo a última ilusão que me convida,
Martelando nas tábuas de um esquife!

Augusto de Lima

SERENATA


Plenilúnio de maio em montanhas de Minas!
Canta ao longe uma flauta e o violoncelo chora,
perfuma-se o luar nas flores das campinas,
subtiliza-se o aroma em languidez sonora.

Ao doce encantamento azul das cavatinas,
nessas noites de luz mais belas do que a aurora,
as errantes visões das almas peregrinas
vão voando a cantar pela amplidão afora...

E chora o violoncelo e a flauta, ao longe, canta.
Das montanhas cantando, a névoa se levanta,
banhada de luar, de sonhos, de harmonia.

Com profano rumor, porém, desponta o dia
e, na última porção da névoa transparente,
a flauta e o violoncelo expiram lentamente


Augusto de Lima

No trem



O ano passado neste mês… É um dia
De grande sol. A máquina troveja,
Berra, fuma, atravessa em correria
A amarela paisagem

Vais a um canto do trem. A serrania
Foge aos poucos. A aragem te festeja
Voa, a brincar com o teu cabelo,e, fria,
leva-te, os olhos, trêfega te beija

Olho-te, mudo. Esquece-me a paisagem
Mas, anoitece e a líquida turquesa
Do mar nos diz que é terminada a viagem

Formam nuvens pelo ar, plumbeas refolhos
Cai de leve o crepúsculo… e a tristeza
Espalha outro crepúsculo em teus olhos.

Humberto de Campos
In ‘Poesias Completas’ (1933)

Semente do Deserto



No alto sertão da minha terra
Cai, misteriosa, uma semente
Que a outras sementes move guerra.

onde ela nasce, de repente,
— Seara de mão cruel e ignota —
A relva murcha, suavemente.

E nas planícies onde brota,
E onde nem sempre é conhecida,
Toda a campina se desbota...

(Semente bárbara e remota,
Quem te semeou na minha vida?)


Humberto de Campos
In ‘Poesias Completas’ (1933)

LENDO-TE



"As roseiras aqui já estão florindo..."
Mandas dizer.. ."As híspidas e pretas
Rochas da estrada já se estão cobrindo
De musgo verde... Há muitas borboletas..."

E eu me fico a pensar que agora é o lindo
Mês das rosas esplêndidas e inquietas
Asas: mês em que a serra anda sorrindo,
E em que todos os pássaros são poetas.

Vejo tudo: a água canta entre os cafeeiros.
Vejo o crespo crisântemo e a açucena
Estrelando a verdura dos canteiros.

Penso, então, que em tudo isto os olhos pousas...
E começo a chorar...Olha: tem pena,
Não me escrevas falando nessas cousas!...

Humberto de Campos
In ‘Poesias Completas’ (1933)

EU



Quando alguém me pergunta, por ventura,
Quem me faz de outros tempos diferente,
Pensas tu que teu nome se murmura,
Que o exponho à ânsia voraz de toda gente?

Não; digo apenas o seguinte: é pura,
Casta, simples e meiga: é uma dolente
Cauta rola de tímida candura,
Flor que menos se vê do que se sente.

Mimo de graça e de singeleza;
Clara estrela arrancada a um céu profundo:
Doce apoteose da Delicadeza...

Nesse ponto, de súbito, me calo;
E, sem dizer teu nome, todo mundo
Fica logo sabendo de quem falo!


Humberto de Campos
In ‘Poesias Completas’ (1933)

O LAGO



Rolando as ondas plácidas, que o vento,
Leve, embalava, a superfície fria
Refletindo o estrelado firmamento
Sereno, o lago circular, dormia.

Passara o vento ríspido, que o havia
Feito crespo e feroz. E agora, lento,
Rola, e repete a música harmonia
Antiga, e esquece o temporal violento...

Olha: este lago límpido, e sem fráguas,
De ondas mansas, de leve entumecido
Pela aura branda que lhe beija as águas,

Faz-me rever minhas felicidades:
Assim vivo de ti hoje esquecido,
- Sem anseios, sem ciúmes, sem saudades...


Humberto de Campos
In ‘Poesias Completas’ (1933)

TUAS CARTAS



Tuas cartas rasguei uma por uma:
Cento e quatorze páginas e tiras
De confissão e juramento: em suma,
De perfídias, de enganos, de mentiras.

E chorei, ao rasgá-las! Tinha alguma
Cousa implorando contra as minhas iras
Em todas; e, hoje, irritação nenhuma
Neste peito verás, por mais que o firas.

Eram mentiras, eu bem sei... No entanto,
Cada rompida página era um cardo
Que enterrava do peito em cada canto.

E eis porque, pelo chão, após instantes,
Os pedaços juntei... e agora os guardo
Com mais amor do que os guardava dantes!


Humberto de Campos
In ‘Poesias Completas’ (1933)

SAUDADES



Dominando a planície, a fronde aberta
Ao Sol, beijada pela ventania,
De áureas flores e pássaros coberta,
Farfalhando, aquela árvore se erguia.

Quando o Sol, pelo azul, a chama experta,
Como um jalde crisântemo - se abria,
Cantava logo um rumor d'asa, e, alerta,
Logo o bando de pássaros a enchia.

Era toda rumor. Suaves, bailando
Em torno, havia, namoradas dela,
Borboletas intrépidas, em bando.

E, do chão, como fúlgidas centelhas,
Insetos de ouro vinham ver aquela
Doce amiga de pássaros e abelhas.

Humberto de Campos
In ‘Poesias Completas’ (1933)

Retrospecto



Vinte e seis anos, trinta amores: trinta
vezes a alma de sonhos fatigada.
e, ao fim de tudo, como ao fim de cada
amor, a alma de amor sempre faminta!

Ó mocidade que foges! brada
aos meus ouvidos teu futuro, e pinta
aos meus olhos mortais, com toda a tinta,
os remorsos da vida dissipada!

Derramo os olhos por mim mesmo... E, nesta
muda consulta ao coração cansado,
que é que vejo? que sinto? que me resta?

Nada: ao fim do caminho percorrido,
o ódio de trinta vezes ter jurado
e o horror de trinta vezes ter mentido!

Humberto de Campos
In ‘Poesias Completas’ (1933)

Íntimo



Minha mãe! minha mãe! Tu, que adivinhas
esta mágoa amaríssima que eu canto,
tu, que trazes as pálpebras de pranto
cheias, tão cheias como eu trago as minhas;

tu, que vives em lágrimas, e tinhas
a vida, outrora, tão feliz, enquanto
deste teu filho, que tu queres tanto,
todas as mágoas serenando vinhas;

tu, que do astro do bem segues o brilho,
pede ao Deus que, apesar das tuas dores,
ainda persiste a castigar teu filho,

que eu não morra a sofrer, como hoje vivo,
esta angústia de uma árvore sem flores
e esta mágoa de pássaro cativo.

Humberto de Campos
In ‘Poesias Completas’ (1933)

Condor



Foste um sonho no azul. Viste rolar de perto
A áurea roda do Sol. No etéreo sorvedouro
Do infinito, escutaste os temporais em coro,
O barulho do céu de mil nuvens coberto.

Asas ao vento, a bater no firmamento aberto,
Quanta vez, negro e só, viste, espantado, o louro
Bando de astros faiscar no intérmino Deserto
Como constelações de borboletas de ouro!

E subiste... A Amplidão te acalentou nos braços
Largos. Alto, a rolar, embalde o Sol faiscantes,
Crespas ondas de luz golfejou nos espaços.

E caíste, afinal, palpitante e convulso.
E hoje, guardas no olhar as mil nuvens distantes,
- Astro frio e sem luz, dentre os astros expulso!...

Humberto de Campos
In ‘Poesias Completas’ (1933)

quarta-feira, 16 de março de 2011

O mar


Ouve! O mar, escarpando as rochas, na agonia
Do sol, parece ter na voz humana acento
De dor! Reza, talvez. Vai recolher-se. O dia
Se ajoelha e a tarde, em sonho, abraça o firmamento

Como nós, pode ser que a tristeza e a alegria
O mar sinta também: precisa, em movimento,
Trazer um coração... Quem sabe o que irradia,
No íntimo, em doce e azul recolhimento.

Escuta! Uma onda vem beijar-te os pés. Não a de
Calma os seios rasgar sobre os basaltos. Quero-las
As ondas todas são. Ouve-lhe a voz. Piedade!

O mar leva-me a crer que tem paixões mortais
Em que rolam, brilhando, as lágrimas das pérolas
E palpita, fervendo, o sangue dos corais...


Maranhão Sobrinho
Do livro Vitórias Régias