Seja bem-vindo. Hoje é

terça-feira, 12 de abril de 2011

VERTIGEM DA ARTE


No frontispício de uma antiga igreja,
talhado em duro mármore polido,
abre as asas um anjo que branqueja
entre as flores de pedra adormecido.

O olhar num sonho místico abismado,
imóvel fita a altura friamente:
- gênio estranho, que aos céus arrebatado
em pedra se tornasse de repente.

Era manhã. No rosto alvo e divino,
que no pó do tempo envolve em seu manto,
vi cintilar no orvalho matutino,
deslizando na pedra como um pranto ...

E julguei um instante, que chorasse
aquele ente sem vida, à luz da aurora,
Que se contraísse aquela face,
sem me lembrar que o mármore não chora!

Extático entre os góticos primores,
que um talento infeliz, gênio sem palma,
cinzelasse, talvez, sonhando amores,
e escondendo na pedra o sangue da alma,

tive a vertigem, (louco desvario)
de perder-me no espaço indefinido,
só para ver, de lá, o olhar sombrio
desse anjo de pedra adormecido.


Augusto de Lima
in Coletânea de Poesias

Nenhum comentário:

Postar um comentário