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segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Orfeu

Orfeu

Tange, Orfeu, sozinho, tange a lira agreste
Para afugentar a dor, que te devora,
Na floresta calma, embaixo de um cipreste,
Dorme para sempre Eurídice e singela,
Como se dormisse em teus braços outrora.
Tange, Orfeu, a lira, tange e lembra dela.

Ao tangir pungente, entoa um triste canto,
Ó poeta amante, sem o amor da amada,
Canta, Orfeu, sozinho, canta que teu pranto
Enche a selva toda de melancolia,
Canta, Orfeu, e lembra da formosa fada,
Que morreu por ti e muito te queria.

Olha os animais, Orfeu, que o teu penar
Recobriu de dor, de dor por tuas mágoas,
Tanto sofrimento fez que novo mar
Filho seu nascesse, em lágrimas brotado
Pelo transformar dos corações, em fráguas,
Dos nobres amigos, olha todo o lado.

Tanto amor tiveste, Orfeu, e tão ardente,
Que perdeste Eurídice, por tanto amor,
Tu, que até Plutão, supremo e indiferente,
Recobriste em pranto, faze ao que te resta
Dos amigos nobres, que choram de dor,
A felicidade, canta na floresta.

Nunca mais mulher alguma, grande Orfeu,
Teu amor terá ou tua inspiração,
A paixão da morta é grande e não morreu,
Como não morreu a dor, que te entristece,
Canta, Orfeu, o canto que no coração
É mais lindo e puro que uma santa prece.

Tange, Orfeu, sozinho, tange a lira agreste
Para afugentar a dor, que te devora,
Na floresta antiga, embaixo de um cipreste,
Dorme para sempre a amada e tão singela,
Como se dormisse ao lado teu outrora,
Tange, Orfeu, a lira ... tange e lembra dela.


Ives Gandra

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